Caríssima/o:
Em tempo de Páscoa façamos festa, cantemos o Aleluia da Ressurreição. No entanto, deixemos espaço no nosso coração para que outros ressuscitem connosco. Sigamos o poeta:
Cristo das ruas
Rápido passa e cruza a rua baça,
Caminha como um escravo e como um rei,
Asa do instante que no olhar esvoaça,
Dentro da massa informe em que o formei.
Não me vê. Mal o vejo. Apenas passa.
Quem é? Que faz? Para onde vai? Não sei.
Mas sei que o libertei da humana massa
Com esse olhar gratuito que lhe dei.
Cristo vulgar e anónimo das ruas,
Passa – e com ele vão as horas nuas
Das solidões imensas do caminho.
Passa e arrasta consigo o tempo e o espaço,
Larga um surdo queixume em cada passo,
Cristo das multidões, Homem sozinho.
Miguel Trigueiros
Manuel
Sem comentários:
Enviar um comentário