sábado, 30 de março de 2024

CRISTO DAS RUAS

 

Caríssima/o:

Em tempo de Páscoa façamos festa, cantemos o Aleluia da Ressurreição. No entanto, deixemos espaço no nosso coração para que outros ressuscitem connosco. Sigamos o poeta:

Cristo das ruas

Rápido passa e cruza a rua baça,

Caminha como um escravo e como um rei,

Asa do instante que no olhar esvoaça,

Dentro da massa informe em que o formei.


Não me vê. Mal o vejo. Apenas passa.

Quem é? Que faz? Para onde vai? Não sei.

Mas sei que o libertei da humana massa

Com esse olhar gratuito que lhe dei.


Cristo vulgar e anónimo das ruas,

Passa – e com ele vão as horas nuas

Das solidões imensas do caminho.


Passa e arrasta consigo o tempo e o espaço,

Larga um surdo queixume em cada passo,

Cristo das multidões, Homem sozinho.

                                                                    Miguel Trigueiros

Manuel


Sem comentários:

Enviar um comentário