domingo, 5 de junho de 2022

Baltasar Ramos Casqueira

 


Caríssimo:
Não consigo atinar o início deste postal. O Baltasar é uma figura ímpar; posso dizer que, mais do que um livro, vale bem uma enciclopédia. Formado nos juncais da borda de água, enrijecido pela cava da surriba, amassado pela canastra do sal, abalou para os bancos da Terra Nova e travou combate com temporais e furacões, chegando mesmo a enfrentar baleias.
Não se conformando com o que a vida lhe oferecia, ei-lo emigrante na Terra do Tio Sam; estuda o americano; singra. Reforma-se. Mas não pára: as miniaturas de barcos e outras actividades enchem-lhe todos os momentos.
E podíamos prosseguir, mas entremos no Desejado e vamos a uma pescaria que, como ele dizia sorrindo, o São Pedro era pescador!
Acredita: é bom estar contigo e sentir o teu abraço
Manuel

3 comentários:

  1. Em poucas palavras verdades tantas! Obrigada, Sr. Professor!

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  2. A vida do Tio Baltasar esteve sempre ligada à água salgada. Como tantos rapazes do seu tempo, a ria encantou-o, puxou-o para os esteiros para aprender a dar as braçadas que davam o músculo para «fazer pela vida». Através da água, aguçou a necessidade de trabalhar na dureza e soube o que era remar contra a maré na cale, à procura da riqueza branca do ldo de lá. O mar levou-o a conhecer o mundo e por longe arriscou a vida, que não deixou mágoas.
    A avaliar pelas conversas com os irmãos Manuel, António e Armando, a que assisti, a vida no mar tinha sempre episódios felizes e muitas coisas aprendidas com homens de longe que chegavam à Gafanha da Nazaré para conhecer o mundo pelas ondas frias. Aprenderam e ensinaram, muito! Mas o Tio Baltasar tinha uma maneira muito sua de partilhar ideias: a vida pode ser melhor, se trabalhares à procura do que é melhor para ti. E se fizeres assim, também estás à procura do que é bom para os outros.
    Nunca pôs a sua Gafanha em segundo lugar e nunca deixou de dar grande valor às memórias - as suas, que a vida lhe proporcionou, e as que eram para deixar aos «novos», que nem sempre olham para os mais velhos com respeito, dizia. As memórias acumuladas tinham dado vida aos seus, que, quando vinham no verão, tornavam as nossas férias mais ricas, e eram sobretudo para dar ânimo aos outros, quantas vezes postos em primeiro lugar, por estar neles a responsabilidade de não fazer esquecer a fibra de que são feitos os gafanhões.
    Saudades.

    P.s.: muito grato pela partilha, Professor Manuel.

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    Respostas
    1. É realmente pena que os visitantes não possam aqui depositar uma foto «in memoriam» mas entende-se, dado tratar-se de um espaço próprio.
      Muito bonita e inspirada a ode ao tio, que podemos ver acima!
      As boas pessoas são eternas, pois delas guardamos as melhores memórias que apagam muito facilmente os momentos menos bons de segundos, que se evolam na hora e deixam só a boa impressão, a persistente.

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