Caríssimo:
Rapaz um pouco mais velho de que eu e que viveu em pleno a Primeira Grande Guerra costuma escrever as suas memórias. Um dia saiu-lhe esta:
A propósito...
Um belo dia, no tempo da Guerra, fui para a bicha da padaria da Chave, às 3 horas da manhã. Esta padaria ficava nas casas do sr. Cravo.
Num certo momento, uma pobre rapariga (que já faleceu) começou a dizer que estava antes de mim na bicha. Puxa da saca com três moedas de vinte e cinco tostões ( ou seja, dois escudos e cinquenta centavos) e dá-me com ela na cabeça.
Fiquei com a cabeça aberta e cheia de sangue... mas não deixei de apanhar o pão. Toca a pôr a mão na cabeça para apertar e tapar o buraco que deitava o sangue. De vez em quando limpava da cara o sangue que escorria da cabeça.
Só mais tarde, quando cheguei a casa é que me fizeram o curativo: cortaram-me o cabelo na zona do golpe e puseram-me um pouco de mercúrio e de cinza. E foi assim o remédio que tive para sarar o tal golpe que nunca mais me esquece.
E tudo aconteceu por causa da Guerra.
Pois que não mais aconteça
Manuel
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